Eu tenho quase quatro anos de formação em Direito. Durante uma média de dois anos e meio deles eu atuo como advogado. Não é fácil. Atire a primeira pedra quem nunca sentiu a cabeça ferver quando informaram que o processo estava na secretaria para ter as páginas carimbadas. Tudo isso depois de três meses de processo protocolado! E o que falar dos embargos protelatórios? E da demora para que eles sejam julgados?
Mas a demora não é nosso único desafio na advocacia. Muitos colegas têm medo de aceitar que o trabalho do advogado pode e deve ser substituído em boa parte por soluções eficientes e menos burocráticas. Por que estudar cinco anos para, simplesmente, copiar e colar ou fazer pequenas edições em petições repetitivas? Por que ir ao Judiciário, quando, na verdade, a solução pode aparecer numa simples conversa aberta e transparente?
Com base no que eu já tenho visto como alternativas de soluções e os projetos em desenvolvimento, eu teria alguns palpites do que vai acontecer no futuro da advocacia.
Sistema único para as ações judiciais
Não sei porque ainda não se colocou um ponto final nesse problema. Quando queremos protocolar uma ação, temos que encarar uma variedade de processos diferentes. Lidar com interfaces complexas e nada intuitivas.
Isso é um problema que interfere no custo e tempo do trabalho. Não seria muito mais eficiente poder, por exemplo, distribuir várias ações em bloco? Inteligência e tecnologia para isso já existe e acredito que isso não demoraria para ser implementado.
Morte do cartão de visita
Logo que comecei a advogar, uma dos meus primeiros impulsos foi encomendar uma caixa de cartões de visita. Até hoje tenho essa caixa. Não entreguei nem 1/10 dela.
Todas as vezes em que conheci potenciais clientes ou parceiros, eles anotaram meu número em seus telefones. Entreguei mais cartões para parentes, amigos e colegas do que para clientes. Acredito que seja uma questão mais de vaidade do que de necessidade.
Gastamos a maior parte do tempo em frente ao computador, elaborando e enviando petições, cumprindo prazos. Hoje, as pessoas encontram seu número nas redes sociais e em sites. É possível usar plataformas como o Jusbrasil para fazer networking, por exemplo. Estamos criando relações pela internet e usando ferramentas eletrônicas para evitar manusear coisas físicas. Por que imprimir cartões, então?
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Montar petições com um clique
Acho que 9 de 10 petições que escrevo são muito similares. Quando temos uma especialidade e nos tornamos fiéis a elas, atraímos mais e mais ações com as mesmas situações e características, poucas variações.
Hoje já é possível, com a ajuda de inteligência artificial, usar especificações pré-estabelecidas e associá-las a textos, citações, etc. que se encaixam para resultar numa petição otimizada. Afinal, isso já é que fazemos manualmente. São poucas as mudanças que fazemos nas ações repetitivas. Nome e qualificação, basicamente.
Por que não gastar tempo com algo mais produtivo como, por exemplo, estudar novas teses e definir abordagens e estratégias mais eficientes?
Receber menos telefonemas de clientes
Devemos tudo que temos aos nossos clientes e, sim, eles devem ser mantidos informados de situações bem específicas sobre seus processos. O cliente só precisa entender que um advogado tem vários clientes e que é impossível manter um contato frequente. Caso contrário, perderemos tempo que poderia ser investido em defender a causa dele.
Para chegar a um meio termo, a tecnologia – ela de novo! – ajuda. E se seu cliente pudesse ter acesso a uma plataforma em que ele é notificado sempre que você faz alguma movimentação no processo dele? E se ele pudesse ter isso de forma clara, objetiva e transparente?
Sim, teríamos tempo para nos preocupar em dar andamentos aos processos de todos os clientes e deixá-los todos felizes. Isso vai acontecer, não vai demorar.
Reduzir ou acabar com os custos de um escritório físico
Ter um escritório é um dos desejos mais presentes entre os advogados. Nós sabemos que, tradicionalmente, ter um lugar bacana para receber os clientes era muito importante.
Acontece que hoje, cada vez menos recebemos clientes em nossa sala e a quantidade de documentação em papel é quase nula. Tudo está em nossos computadores e o contato pode ser feito por telefone, e-mail e outros canais virtuais.
Já li um texto sobre isso, aqui mesmo no Jubsrasil: Advogado: você precisa mesmo de um escritório físico?
Advogados serão “os juízes” de seus conflitos
Ir à Justiça é uma opção demorada e custosa. Além disso há muito risco quando se coloca uma decisão para um terceiro – mesmo que ele seja imparcial – pois ele não está a par de tudo, apenas de alguns traços de prova que podem falsear muitas informações.
Alternativa como mediação, conciliação e arbitragem acabam se mostrando muito mais eficientes e contribuem para uma solução mais justa para todas as partes. O papel do advogado, nesse cenário acaba sendo muito mais importante no resultado da solução do que no jogo da sorte do Judiciário.
Audiências vão ser virtuais
Quem advoga, sabe como a audiência é um momento importante no processo. Porém, muitas vezes, algumas partes não podem se deslocar por razões justificáveis.
Em 2012 foi realizada a primeira audiência virtual em razão de a depoente está em Portugal fazendo o pós-doutorado.
Para evitar que o processo dure por muito tempo, inovações como essa são sempre pertinentes.
Em um cenário cada vez mais tecnológico, as opções de verificação de identidade e de qualidade da recepção da imagem possibilitam que diversas audiências sejam feitas à distância. Isso reduz em muito o custos do judiciário e até mesmo os custos da ação, para o jurisdicionado e para o advogado.
Nada de trabalhos repetitivos
Muitos amigos meus que foram trabalhar em escritórios saíram frustrados. No fundo, eles não faziam nada que um advogado faria. Acabaram lidando com trabalhos burocráticos e processo repetitivos, como simplesmente inserir dados em planilhas.
Esse tipo de trabalho não é nem um pouco prazeroso. Estudar cinco anos para não poder realmente focar em um trabalho intelectual e estratégico é decepcionante. A boa notícia é que as empresas de tecnologia estão investindo pesado em desenvolver aplicações inteligentes e eficientes que substituam os advogados em trabalhos que dispensam qualquer esforço intelectual.
A burocracia vai ficar para trás e os advogados vão poder se dedicar a atividades relevantes e realmente impactantes, como analisar e interpretar os dados coletados diretamente pelas aplicações.
Apostamos que sim!
Robôs vão fazer petições e prolatar sentenças
Quando as coisas começam a demonstrar um padrão, muito provavelmente é possível identificar as características e apresentar uma solução muito mais prática.
O uso de modelos de petição pelos advogados e de modelos de decisões pelos juízes demonstram isso. O trabalho maior é decidir a estratégia ou fundamentação nesses casos e aplicar a fatos com traços bem específicos.
Por que, então, pessoas precisam fazer um trabalho de substituir campos, quando máquinas podem fazer isso e como mais eficiência?
Recentemente, 100 advogados foram derrotados contra uma máquina na análise de contratos de seguro.
Estudantes sairão muito mais preparados para o mercado jurídico
No Brasil existem mais escolas de direito do que em todo o mundo. Isso não tem garantido, entretanto, que os advogados saiam capacitados e preparados para o mercado.
Quase todas as faculdades de direito ainda não se atualizaram com um novo formato de conduzir a advocacia. Antigamente não existia metade das alternativas que existem hoje. O mundo está mais competitivo e é preciso demonstrar um diferencial em relação ao outro colega.
Por isso, já há uma sinalização de que os currículos vão mudar. Neles serão incluídas disciplinas que preparem o estudante e futuro profissional para uma advocacia realmente profissionalizada e competitiva. Daí a necessidade de incluir temas como gestão, marketing jurídico, jurimetria e muitas outras disciplinas desse tipo.
Isso só depende de a própria classe reconhecer essas mudanças.
Advogados poderão trabalhar de qualquer lugar
Para aqueles que não gostam de fixar raízes num só lugar, essa é uma boa notícia. Se a tecnologia e muitas das previsões que a gente fez até aqui pegarem, é muito provável que a necessidade de ter de permanecer em um lugar desapareça.
Assim, um advogado poderá atuar de qualquer ponto do mundo com uma boa internet, por exemplo.
É claro que questões como confiança precisam ser bem trabalhadas, mas quanto mais ferramentas de controle forem desenvolvidas e aperfeiçoadas, melhor e mais eficiente será escolher um advogado. Quanto mais confiança e credibilidade a classe tiver, mais liberdade para escolher de onde atuar haverá.
Muito do que eu falei é visto como heresia por muitos colegas. Mas não dá pra se esconder e não defender que mudanças aconteçam. Ainda mais para melhorar a advocacia. Afinal, era heresia dizer que a Terra girava em torno do Sol. Hoje, sabemos quem tinha razão.
A propósito, um feliz dia do advogado. Que ele possa ser cada dia mais feliz não só para os profissionais da área, mas para todos os que dependem dele.
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Por Matheus Galvão